domingo, 30 de junho de 2013

Noites sem fim

Nessa madrugada fétida em um pântano de solidão
Vejo a lama negra me sujando a alma em podridão
Ouço as aves funestas agitadas com a doce refeição
Da minha vida que se esvai aos poucos na escuridão

Cada passo adiante me afunda ainda mais na sujeira
Minha prece inquieta é de que isso seja brincadeira
Dos deuses marotos que divertem em suas liteiras
Enviando sem dó e compaixão suas sortes matreiras

Que nem os ossos sejam visíveis após a consumação
Nessa desgraça alheia onde muitos encontram diversão
Palavras tortuosas saltam em busca de direção
Está condenado, o esforço é em vão
Não há salvação

Está morto e relutante
Rumo a morte ofegante
Não há luz nem saída
Desista
Aprecie a despedida

Lutou enquanto teve forças
E isso foi até o ultimo segundo
Agarrou-se no que encontrou
Porém perdeu-se no mundo

Hoje tem a respiração lamacenta
De seu espectro sobrevivente
Que causa medo e afugenta
Aqueles que possuem alma vivente

Vagou pela noite eterna sob a luz da lua
Com somente o lodo a esconder a pele nua
E com a natureza morta a lhe servir de rua
Agregando tormentos a sua carne crua

Os poucos que o viam congelavam de pavor
Era pele e osso do que foi homem de valor
Sua voz era clara como um grito de dor
No peito carregava o que um dia chamou amor

Foi corrompido, corroído, dilacerado
Serviu de alimento à feras ainda vivo
Antes tivesse morrido ao ser perdoado
Mas não podia desistir de seu objetivo

Essa foi sua perdição
Padeceu esfomeado, enlameado
Entristecido, solitário
E sua alma transformou-se em barro

domingo, 23 de junho de 2013

À um futuro sempre sorridente

Com as palavras que veem com a brisa pelo ar
Te desejo, no mínimo, mil e uma noites de alegrias
E mesmo que no caminho haja tormento e lágrimas
Que essas noites possam alegrar toda sua vida

Por que o futuro é incerto,como a beleza de uma fotografia
Que registra através de sonhos nossas melhores expectativas
Mas é certo que toda noite longa acaba em um novo dia
Assim como um desejo é dormente até que se realiza

O importante pra ser feliz é nunca deixar de acreditar
Mesmo que as nuvens escondam nossa bela lua
Ou que as estrelas pareçam chorosas de tanta chuva
Lembrar, até a morte, que elas jamais deixam de brilhar.

Façamos como até a pouco, quando ainda éramos criança
E mesmo com o espírito mais velho, manter a esperança
Por que nem todo dia traz felicidade, mas ao nos permitir
Cedo ou tarde o tempo abre a nos dizer: continue a sorrir.

Um sorriso diário, despretencioso, que seja breve ou suave
Alivia o peso das horas, ilumina a alma e renova a idade
Colore os dias cinzas e sem graça até que nos empolga
Por isso, sorria sempre, até a vida lhe sorrir de volta

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Abecedário

Agora aviso apressado
Bole um brinquedo bonito
Chore com convicção
Demande direcionamento
Esqueça o estatuto do estado
Faça o futuro fácil
Grande, grosseiro e gélido
Homenageie homens honestos
Inicie, invista, impere
Jogue um jargão de Jesus
Lute loucamente no luto
Malicie o mundo mortal
Negue a novidade natural
Orgulhe-se do ócio ordinário
Pare de perder poder
Quantifique o que quer
Recupere a reles razão
Sustente suas saudades
Transite em todas as trevas
Uive unicamente em união
Vista várias vestimentas
Xote o xamã xereta
Zombe o zunido zeloso

Que Pena


Ofendeu-se com palavras pequenas
Foi embora com rancor, cheia de ódio
Quis matá-lo a distância, mas era impossível
E isso a deixou mais frustrada que antes
Enfim deixou pra lá aquela bobeira
Voltou a vida de menina feliz
Como sempre foi antes da ousadia
Do velho escroto que a aborrecia
Nenhuma paciência dava conta
De tanto ego ferido mal intencionado
Que o maluco ostentava pelas ruas
Como algo belo a ser admirado
Mas era odioso como um dia de chuva
E amores que não se sustentam no verão
De repente algo mudou e ninguém sabia
Ela sentiu falta e um frio na barriga
O velho se foi a deixando de vez
Desenhando um abraço invisível
O desejo de ter tido uma chance
E de que aquilo não fosse só ilusão

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Bufando

Estou de vermelho
Talvez seja isso
Que tenha atiçado
O touro nervoso

Não há explicação
Para ser tão agressivo
Um bicho tão bonito
Que bufa de ambição

Me ataca sem razão
Mesmo eu quieto
Escondido no canto
Sem chamar atenção

É instinto ou sina
Com a cor da paixão
Que guia seus passos
Na minha direção

Sai de mim animal
Sedento por sangue
E energia de destruição
Em sua rota de colisão

Eu não tenho culpa
De ostentar sem querer
As cores do amor
E caminhar nesse ton



domingo, 9 de junho de 2013

Meu ponto fraco

Deve ser os olhos, só pode ser
Como foi em todos os outros grande amores
Deve ser a cor que me hipnotiza
Guiando-me para outras dimensões

Onde eu passo a acreditar no amor
Do tipo que eu não vejo mais no mundo
Por que nós, seres humanos, somos egoístas
E não temos tempo de nos entregar



quinta-feira, 6 de junho de 2013

Os Mestres do disfarce

Esse disfarce é todo meu, é todo teu, é todo nosso.
Como se não fosse verdade, como se não fosse real.
Como se não fosse possível, mas é mentira.
Negamos, ocultamos, escondemos
Só pra não levantar suspeitas.
O que diria ele, se a visse partir?
O que faria ela se o visse sorrir?
Nada se diz, o disfarce deve permanecer.
Não se pode chamar atenção.
Senão o que seria do mistério?
Onde estaria o segredo tão bem guardado?
Nada desafia o tempo
Nem os grandes disfarces
Ou seria possível um desejo
Ir além da eternidade?
E digamos que só por hoje
Eu não queira disfarçar
Nem a palavra
Ou o não dito
Ou a maestria
Também ao revelar.

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Os poemas que estiverem marcados por esse símbolo, representam os poemas que foram compostos para uma determinada musa inspiradora, a qual admiro muito atualmente. Como é mais um dos meus romances insanos e impossíveis, platônico, quis destacá-lo, pela força desse sentimento em mim e a grandeza da inspiração.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Morte em 7 versos

Foi morto por descuido
Há quem diga que foi descaso
Mas em todo caso o poeta
Estava esfacelado.

Suas palavras perduraram
Já que não há como mudar o passado
E apesar de estar um pouco arrependido
Tudo que disse já estava gravado

Quando em palavras escritas
Expressou tudo que sentiu
E como na armadilha caiu
Sempre com palavras bonitas

Em outras oportunidades
Expressou-se em cantos
Sendo um cantor malandro
Viajando por várias cidades

Mas o poeta não teve poema recitado
Sua voz calou-se no peito junto ao grito
Foi abafada pela distância de seu objetivo
Vítima de sentir-se só e desolado

Fez tudo que estava ao seu alcance
Viu a morte lhe sorrir de cima da estante
Triste a esperou chegar sem esperança
Passou e deixou um corte na garganta

Esvaiu-se de inspiração como a murcha flor
Ainda pensou nela em seu ultimo suspiro
E desejou com a morte um novo futuro
Para que mesmo longe ela pudesse enfim ouvir seu clamor.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Com a leveza de palavras insustentáveis

Eu andei fazendo muitas homenagens a você
Já declarei o meu amor.
Mas a distância e o acaso me fez grato
Por jamais a ter conhecido.
Ah, como a amo, mas não passa de ilusão.
Ilusão que logo passa, como bolha de sabão.
Porque amar é fantasia.
E isso que não existe entre nós nunca daria certo.
Tu és certa por demais
Para o meu completamente errado.
Eu sou homem quebrado.
Enquanto tu exibe um brilho intocável.
Carrego comigo escuridão e alma negra.
Pecados imperdoáveis que me excluem da salvação.
Tu és, quase nada, como um anjo alado.
Depois de clamar compaixão observo calado.
De longe, admirado e pensando.
Quem sabe em outra vida
A gente tenha se encontrado.